20/02 – Cinematerna traz Cinquenta Tons de Liberdade

Cinematerna traz Cinquenta Tons de Liberdade no Shopping Iguatemi Ribeirão Preto

Mensalmente o Shopping Iguatemi Ribeirão Preto recebe o projeto Cinematerna, que tem como proposta proporcionar aos pais – acompanhados de seus filhos de até 18 meses – sessões especiais de cinema em um ambiente totalmente adaptado para este público.

Na próxima terça-feira, dia 20 de fevereiro, na Sala VIP da rede Cinépolis do Shopping Iguatemi Ribeirão Preto, a partir das 14h, o projeto exibe o filme “Cinquenta Tons de Liberdade”, adaptação da última parte da trilogia de E. L. James iniciada em Cinquenta Tons de Cinza (2015). Superados os grandes problemas, Anastasia (Dakota Johnson) e Christian (Jamie Dornan) têm amor, intimidade, dinheiro, sexo e um promissor futuro. A vida, no entanto, ainda reserva surpresas para os dois.

Para participar, os interessados podem adquirir os ingressos diretamente na bilheteria do cinema.

Programe-se
Cinematerna no Shopping Iguatemi Ribeirão Preto
Dia: 20 de fevereiro (terça feira)
Horário: 14h00
Onde: Sala Vip Cinépolis

Procurando apimentar a matéria, buscamos releases críticos sobre o filme e destacamos abaixo um dos mais completos:

 

Iniciaremos esta crítica com boas notícias. Para quem é fã de Cinquenta Tons de Cinza, vele dizer o capítulo final da trilogia mantém o padrão dos demais exemplares, ou seja, uma eterna preliminar sado-kitsch contraditória em si mesma. Temos aqui o mesmo tipo de “romance”, “eroticidade”, “drama” e “suspense” — ou qualquer fluído pré-cinematográfico que os produtores possam ter transformado esta obra — de sempre, logo, se você gostou dos filmes anteriores, gostará desse. E nossa positividade não para por aqui. Por incrível que pareça, os primeiros minutos de Cinquenta Tons de Liberdade são realmente interessantes. O diretor James Foley, através de uma decupagem acertada, vai compassadamente de um primeiríssimo plano para um grande plano geral, destacando com eficiência o ingresso do casal protagonista em uma nova fase de suas vidas, dando ares intimistas ao momento.

Dito isto; se você, leitor, tinha interesse em saber o que há de bom na conclusão da trilogia 50 Tons, agora já sabe. Pode parar por aqui. De agora em diante, abordaremos o que realmente constitui este terceiro longa da série, ou seja, um mal ajambrado bacanal ótico de extrema incompetência. E para tanto, precisamos dar a nota condizente com o que é o filme depois de seus dez minutos iniciais.

Propomos um jogo a vocês. Não se preocupem, não vai doer nada e não faremos nada que vocês não vieram buscar aqui ( ͡° ͜ʖ ͡°). Imaginem um roteiro. Isso. Agora desçam os olhos lentamente pela descrição das cenas. Inspire e expire lentamente. Com cuidado, tentem sentir a base das sequências; sua temperatura e pulsação de preparação para um drama que em breve explodirá num fade-out branco. Notem que mediante o contato, essa base dramática dará lugar a ruídos curiosos, que em cinema chamamos de diálogos. Percebam como o tom desses ruídos, seu volume, tessitura e indicações de prazer ou desprazer mudam ao longo do trajeto. Reparem como o diálogo cresce, cresce e cresce cada vez mais, preparando os dois (ou mais!) lados do jogo para entender o que em fotografia a gente chama de luz dura. Notem que é preciso ter bom senso e passar o tempo adequado em cada parte do texto, para não tornar a coisa desinteressante. E percebam que depois de muita oralidade, técnica, dinâmica de direção e percorrido um determinado tempo, vocês chegarão exaustos ao final disso que, em cinema, a gente chama de filme. Agora imaginem que todas as partes desse processo foram feitas misturando areia, isopor, baba de quiabo e má direção. Conseguem imaginar? Pois bem. Bem-vindos a Cinquenta Tons de Liberdade.

Como é sabido, o longa finaliza a travessia de Anastasia Steele (Dakota Johnson) e Christian Grey (Jamie Dornan) pelo difícil relacionamento entre um dominador ciumento e uma jovem inocente (?) que só queria mesmo um rolo (!). Com roteiro de Niall Leonard, o filme faz de tudo para aglutinar personagens que fizeram parte da vida do casal principal nos três filmes e resolver o impasse causado pelas ações de Jack (Eric Johnson), sugerido como um vilão longevo no filme anterior. Notem que existe bastante informação aí, cada uma cobrando desenvolvimento particular de personagens e interação de seu bloco pessoal com o restante dos outros blocos do filme, justamente a parte em que a obra começa a dar errado.

A maior impressão que nos passa Cinquenta Tons de Liberdade é que seu roteirista e diretor quiseram fazer um bom filme sobre o encontro de si mesmo diante do amor, a despeito de todos os problemas pessoais, familiares e de psicopatas eventuais (coito interruptus, em latim), mas não conseguiram ter material para fazer tudo isso. Primeiro porque a proposta da trilogia, por mais que fizesse o Sr. Grey evoluir como pessoa, não era a de descaraterizar o personagem, correto? Mas é justamente isso que acaba acontecendo, à medida que ele mantém comportamentos que já deveriam ter sido abandonados em Cinquenta Tons Mais Escuros e, sem quê nem por quê, à medida que deixa minar o que sempre lhe deu prazer e o que o tornava minimamente interessante como personagem: o elemento dominador. O texto sequer tenta integrar isso à convivência com Anastasia e, quando sugere algo do tipo, a relação fica apenas na dualidade “eu mando, você obedece”. Não há esforço para transformar a temática mais pesada do filme anterior naquilo que o presente longa (e o livro!) vendem para o encerramento, um mergulho em si mesmo para encontrar paz, não uma transformação de si mesmo em um Tio Patinhas de 30 anos que gosta de dar ordens amenas, falar frases de efeito como “eu estava esperando por você” e brandir um chicote sem sequer ter coragem de usar.

Quem também não demonstra o que deveria é o roteirista Niall Leonard. Falando da matéria-prima do filme, o sexo, o que há de mais ousado na obra é o fato de o casal principal estimular os mamilos um do outro com a língua, momento que o diretor, pelo menos, não esconde. Aliás, de todos os filmes da trilogia, este é o que mais utiliza a nudez, embora aos poucos a torne banalizada (não sendo um filme que pretende ganhar o Sexy Hot em alguma categoria genérica, a nudez precisava ter um significado maior do que apenas “olha, gente, peitos, bundas e pelos!“), sem carga dramática ou delicadeza alguma por parte da direção ao retratar os corpos, com exceção da primeira cena de sexo no Quarto Vermelho. No entanto, para um longa que se autointitula erótico, mamilos não podem ser o ponto de maior destaque e a eroticidade precisa ter uma abordagem corajosa. O que temos aqui é um protagonista sadomasoquista casado com uma jovem que acabara de adquirir uma vida sexual e a única coisa que pode apresentar são beijos no peito, brincadeiras com sorvete e sexo matinal. É sério?

Aliás, o ápice das broxadas ocorre na cena em que Christian amarra Anastasia em um poste e sussurra em seu ouvido “hoje, vou te tirar do sério”. Sabem como o sadomasoquista tira sua esposa algemada do sério? Tirando um vibrador de uma gaveta e passando o objeto pelo corpo da moça. Sim, aparentemente, o vibrador é o ápice do sexo fora dos padrões no universo de 50 Tons. Para piorar, durante a cena, Grey parte para o moralismo ao dizer “é assim que me sinto quando você me menospreza”, tornando o momento não só broxante, mas também infeliz, por utilizar o ingrediente erótico como vingança. A única coisa que se destaca nesses momentos de interação à meia-luz é a direção de fotografia, especialmente no Quarto Vermelho ou em ambientes que não apresentem tons de azul ou cinza.

Mas o roteiro de Leonard não monopoliza a incompetência aqui. Ela também alcança o diretor James Foley, que simplesmente não sabe filmar cenas de sexo. Ele opta por sequências curtas, planos fechados que impedem o público de observar a ação e uma irritante trilha sonora pop que quebra por completo a proposta e que infelizmente se repete ao longo de todo o filme. Essas cenas íntimas, que deveriam evocar a química do casal, são defloradas por canções em volume alto. Não há gemidos, sussurros, provocações ou qualquer outro recurso menos preguiçoso que envolvesse edição e mixagem de som, resultando em cenas que falham em reforçar a relação dos amantes ou causar qualquer impacto maior no público.

E os problemas de Foley com a música não param por aí. Em uma cena de perseguição, por exemplo, o diretor deixa passar uma faixa alegre, simplesmente porque Anastasia está dirigindo o carro, ignorando completamente o fato de um maníaco estar na cola dos protagonistas. Além disso, a edição tem uma mão terrivelmente pesada (ou mole?), empregando um ritmo veloz em momentos que clamam por maior duração (inclusive para destacar os atores), impedindo que o público absorva o amontoado de informações jogadas pelo texto. Na fotografia, imperam os planos vazios de contexto de ambiente a partir de panorâmicas pela cidade, pelas casas, pelo apartamento; tudo majoritariamente bem iluminado com luz direta, brilho mediano e quase nenhuma identidade de cor para cenas ou personagens. Quem salva o dia é a direção de arte, com destaque para o escritório de Anastasia e para a visualmente interessante sequência dos drinques antes da invasão de Jack no apartamento.

Um dos momentos onde parece haver um concurso para quem erra mais é a sequência em que Ana e Christian discutem, na manhã seguinte à jovem revelar que está grávida. Ali, temos o melhor momento de Dakota Johnson no filme e um dos pontos realmente bons do texto, que mostram verdades dos dois lados da moeda. Mas eis que o diretor resolveu filmar a sequência com uma câmera no fap mode e em plano mais aberto do que deveria, com uma dinâmica que parece que a câmera está pendurada por um cabo balançando aleatoriamente pelo set, impedindo o espectador mergulhar como deveria na cena e quebrando a possível oportunidade de salvarmos um pedaço do filme que tivesse o casal como foco. A isto poderíamos ainda adicionar o aparecimento e desaparecimento de personagens que supostamente teriam alguma importância, mas estão lá apenas para tomar tempo (Gia, a arquiteta); a criação de pseudo-dilemas que se resolvem ou no exagero ou na extrema falta — a sugestão do caso do irmão de Christian que não dá em nada, a sugestão de um possível caso do segurança Sawyer com a colega de Anastasia e o próprio drama do sequestro final, que mais descaracteriza o vilão pelo que ele representou o filme inteiro do que faz dele um vilão de peso para ser odiado, algo que o texto sequer se dá o trabalho de consertar, enquanto fingia desenvolver uma linha paralela com a história da família Grey e a adoção de Christian.

Diante das contradições e bolas fora (!) do roteiro, o espectador esperaria pelo menos algo mais do que uma passagem enjoativa de um casal por várias cidades durante sua lua de mel ou algo mais do que uma montagem picotada e cheia de fades tenebrosos que ligam cenas do que aconteceu nos dois filmes anteriores para mostrar que “olha, isso aqui é uma trilogia, a gente já passou por tudo isso e agora estamos aqui!“. O que jamais vamos entender é como uma cinessérie sobre “sexo diferentão” e as relações que envolvem esse tipo de sexo se transformou em Girls In The House – 69ª Temporada: Os Herdeiros das Kardashians. Pois é. Fica aí o questionamento.

Texto do Site Plano Crítico

 

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