Medo de envelhecer e luta contra o machismo movimentam a jornada de Alice
As dores femininas na sociedade machista e o preço da busca pela juventude são peças centrais de A Ascensão de Alice, lançamento da autora mineira Sônia Gandra. Em representação ao feminino contemporâneo, a protagonista Alice vive fortes dilemas sociais, como a busca pelo sucesso profissional, mas também internos, como ter ou não filhos, priorizar a carreira e esconder as marcas do tempo.
Além de gerar identificação com a juventude feminina, a vida da autora também serve de espelho para a própria criação, da sólida relação entre mãe e filha às dificuldades enfrentadas por mulheres no ambiente coorporativo, espaço que frequentou por anos. “Sou uma profissional que cresceu num ambiente masculino, com poucas oportunidades para as mulheres, como é a gestão pública”, conta Sônia.
Na história, Alice é uma jovem engenheira química que, em busca de reconhecimento profissional, embarca em uma missão pela Amazonia. Lá, encontra uma planta com extraordinário poder de restauração celular, um segredo guardado a sete chaves por povos indígenas. A personagem resolve então levar a descoberta à indústria de cosméticos, só não esperava que o produto causasse um inesperado efeito colateral: a paralisação total do envelhecimento. É aí que vê os anos passarem e precisa lidar com a perda de amigos e familiares.
“O que aquela garota tinha descoberto, se fosse realmente como ela lhe relatara,
era como a pólvora”, pensava Helena. Nada foi igual no mundo depois que
conheceram a pólvora. Nada mais seria igual no mundo depois
que conhecessem, como era mesmo o nome do produto?
Espírito da Floresta? Bem, ainda não tinha nome, mas
nada seria igual depois daquilo. (A Ascensão de Alice, p. 266)
O intenso conflito emocional vivido pela protagonista é acompanhado por outros dramas que vão contribuir para o seu amadurecimento: luto, culpa, a percepção de incontrole da vida e a morte, e o forte vínculo afetivo com a mãe – que a criou sozinha e ensinou o poder da luta feminina. Ao passar por tudo isso, Alice percebe a importância do apoio mútuo entre as mulheres, a sororidade.