Trombofilia, diabetes gestacional, pré-eclâmpsia, problemas uterinos, placentários e até de tireoide: o que há por trás do parto prematuro?

Segundo a obstetra Mariana Rosario, existem diversas situações que podem levar à prematuridade – e a maioria delas pode ser evitada, promovendo a saúde do bebê e, também, a materna

Dra.  Mariana Rosario, ginecologista e mastologista

São Paulo, 17 de novembro de 2020 – Segundo um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), anualmente, em todo o mundo, nascem cerca de 30 milhões de bebês prematuros, ou 20% de todos os nascidos mundialmente. No Brasil, conforme dados do Ministério da Saúde, bebês prematuros corresponderam a 12,4% dos nascidos vivos, em 2014, ano em que os dados foram apurados. Não é à toa que, em todo o mundo, os olhos dos profissionais da saúde voltem-se, em novembro, para essa questão tão importante, a prematuridade, dando ao mês a cor roxa: Novembro Roxo é, portanto, o mês da conscientização sobre a prematuridade.

É considerado prematuro, ou pré-termo, o bebê que nasce com menos de 37 semanas de gestação – ou seja, abaixo de 36 semanas e 6 dias. É considerado prematuro limítrofe aquele que nasceu entre 37 e 38 semanas; prematuro moderado o nascido entre 31 e 36 semanas e prematuro extremo o nascido entre 24 e 30 semanas. Em relação ao peso de nascimento, é considerado como baixo peso o bebê nascido com menos de 2kg; muito baixo peso o nascido com menos de 1,5kg e extremo baixo peso os nascidos com menos de 1kg.

Em geral, os bebês prematuros têm pouca gordura sob a pele, musculatura mais fraca (por isso, parecem ser tão molinhos) e ainda não desenvolveram algumas funções, como a pulmonar completa e os reflexos de deglutição e sucção, dentre outros. Tudo isso variará conforme a semana gestacional na qual nasceram.

Conforme explica a dra. Mariana Rosario, ginecologista, obstetra e mastologista, existem inúmeras causas para a prematuridade, como o diabetes gestacional, a trombofilia, pré-eclâmpsia, causada pela hipertensão arterial sistêmica, e problemas placentários, distúrbios da tireoide, entre outras situações.

O diabetes mellitus gestacional, segundo um estudo latino-americano recente, é o mais comum dos problemas metabólicos na gestação. Ele acontece quando a função do pâncreas é insuficiente para superar a resistência à insulina diante da secreção pela placenta de hormônios que causam o diabetes.

Um artigo publicado por pesquisadores da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre mostrou que 1/3 de todos os partos prematuros em mulheres diabéticas é consequência de complicações hipertensivas e as causas para o aumento nos partos prematuros espontâneos não são muito claras, mas têm sido relacionadas ao mau controle glicêmico, polidrâmnio (excesso de líquido amniótico) ou infecção. O artigo relata que existe o aumento de 37% de risco de prematuridade relacionado a cada 1% de aumento na hemoglobina glicada antes do parto. Trocando em miúdos, esses dados indicam que o diabetes leva à pressão alta, ao aumento da glicose no sangue e a infecções e, por isso, o parto é induzido prematuramente.

“É fundamental, portanto, que o diabetes gestacional seja controlado, bem como as pacientes que são diabéticas e engravidam tenham a glicemia controlada, seja pelo uso da metformina ou da insulina. O ginecologista-obstetra, neste caso, trabalha multidisciplinarmente, com o endocrinologista, para manter a estabilidade da saúde da paciente”, informa a Dra. Mariana Rosario.

A trombofilia também está ligada aos partos prematuros. Quem tem uma tendência maior à coagulação sanguínea pode ser vítima da trombofilia, uma condição genética ou adquirida que é caracterizada pela circulação reduzida do sangue, que causa os trombos – ou coágulos – que podem obstruir os vasos da placenta e do útero e causar a morte fetal e o aborto.

No caso do parto prematuro, o que acontece é que a trombofilia pode causar o infarto placentário, uma condição decorrente da interrupção dos trombos nos vasos da placenta. Quando ocorre a trombose, esses vasos ficam como ‘entupidos’ por coágulos e o sangue para de circular, não chegando ao bebê.

Se esse infarto placentário ocorrer num momento da gestação em que seja possível realizar o parto prematuro, o bebê nasce. Porém, há casos em que ele ocorre bem no começo da gestação e causa um aborto.

Segundo a ong Prematuridade, 99,14% dos partos prematuros nos quais a causa foi identificada acontecem em decorrência da pré-eclâmpsia, uma combinação de hipertensão e proteinúria (perda de proteína na urina) na gravidez. Os dados são resultado de uma pesquisa de perfil das famílias brasileiras que tiveram bebês prematuros, abrangendo 2.919 respondentes de todos os estados brasileiros país, entre outubro de 2016 e junho de 2019.

Explicando melhor, quando a mulher hipertensa engravida, ela pode ter o quadro controlado, não desenvolvendo a pré-eclâmpsia. Porém, se a pressão arterial não for controlada, ela pode evoluir para a pré-eclâmpsia superajuntada, uma condição que pode causar não apenas o parto prematuro, como colocar a vida da mãe e do bebê em risco.

Quando a mãe não é hipertensa anteriormente à gravidez, mas desenvolve essa sintomatologia na gestação, ela também deve ser monitorada, para não desenvolver a pré-eclâmpsia – que, aqui, não recebe o nome complementar de superajuntada. A pré-eclâmpsia também pode causar o sofrimento fetal (falta de nutrição adequada do feto pela placenta) e a insuficiência placentária, necessitando do parto prematuro.

Por fim, existe uma situação chamada de insuficiência placentária, na qual a placenta fornece menos suprimento sanguíneo que o bebê necessita. Pode ser uma condição leve ou mais intensa, que necessitará de bastante repouso materno, e deve ser monitorada constantemente pelo obstetra. “A insuficiência placentária é diagnosticada pelo ultrasson com doppler e causada pela pré-eclâmpsia ou por hipertensão, diabetes, obesidade, uso de determinados medicamentos ou cigarro”, explica Dra. Mariana.

Em casos de insuficiência placentária acentuada, pode surgir um quadro de centralização fetal, em que o organismo do bebê altera a circulação do sangue, mandando um fluxo maior para órgãos como cérebro, coração e determinadas glândulas e menor para os rins, pulmões, baço e esqueleto. É uma forma de o organismo manter o bebê vivo, já que alimenta seus órgãos vitais.

Porém, com essa ‘estratégia orgânica’, o bebê não ganha peso durante a gravidez, tendo seu desenvolvimento comprometido. Quando isso acontece, o ginecologista-obstetra precisa avaliar a melhor hora de interromper a gravidez e realizar o parto prematuro, porque a centralização fetal pode ocasionar a morte do bebê.

Outras situações, como disfunções na tireoide, também podem causar o parto prematuro. Então, a mulher precisa ser tratada desde antes da concepção, para que sua gestação seja o mais tranquila e saudável possível. “Como se vê, o parto prematuro tem muito mais relação com a saúde materna do que com a do bebê, em se tratando da causa. Porém, as consequências são mais fortes para o bebê, porque ele nasce antes da hora e pode ter dificuldades de desenvolvimento”, alerta a especialista. “Com um bom pré-natal, é possível minimizar os riscos, já que todas essas doenças são tratáveis”, diz a médica.

A saúde do bebê prematuro

A saúde do bebê prematuro pode estar ligada à semana gestacional na qual ele nasceu. Mas, não é só isso: os cuidados que ele recebe após o nascimento interferem diretamente em sua evolução.

Em primeiro lugar, vale dizer que nem todos os bebês prematuros terão alguma doença ou deficiência. A maioria deles, principalmente a que nasce tardiamente, ganha peso adequadamente e logo recebe alta.

Existem complicações para alguns bebês prematuros e é importante citá-las. A Prematuridade – Associação Brasileira de Pais, Familiares, Amigos e Cuidadores de Bebês Prematuros relata que a apneia é um dos problemas que os bebês nascidos com menos de 30 semanas provavelmente terão. Segundo a entidade, pausas na respiração são causadas pela imaturidade da área cerebral que controla a respiração e diminuem com o passar do tempo. O mesmo ocorre quando um quadro de Taquipneia Transitória ocorre: neste caso, é a respiração acelerada do bebê que preocupa a família e ela acontece pela imaturidade do aparelho respiratório.  A Prematuridade relata, ainda, problemas visuais, como a retinopatia; alergia à proteína do leite; displasia broncopulmonar; persistência do canal arterial; enterocolite necrosante; hemorragia intracraniana; síndrome da angústia respiratória e bronquiolite como complicações comuns aos prematuros. Essas questões são tratáveis e, se não houver complicação do quadro, o bebê ganha maturidade suficiente para a alta.

Para o desenvolvimento integral do bebê, é fundamental o acompanhamento especializado e o apoio familiar, principalmente após a alta. Bebês prematuros podem ter o sistema imunológico mais frágil e, dependendo do que enfrentaram ao nascer – se passaram por um problema intestinal ou respiratório, por exemplo – precisarão continuar o tratamento em casa.

Sobre a Dra. Mariana Rosario

Formada pela Faculdade de Medicina do ABC, em Santo André (SP), em 2006, a Dra. Mariana Rosario possui os títulos de especialista em Ginecologia, Obstetrícia e Mastologia pela AMB – Associação Médica Brasileira, e estágio em Mastologia pelo IEO – Instituto Europeu de Oncologia, de Milão, Itália, um dos mais renomados do mundo. É membro da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP) e especialista em Longevidade pela ABMAE – Associação Brasileira de Medicina Antienvelhecimento. É médica cadastrada para trabalhar com implantes hormonais pela ELMECO, do professor Elcimar Coutinho, um dos maiores especialistas no assunto. É membro do corpo clínico do Hospital Albert Einstein.

Possui vasta experiência em Ginecologia, Obstetrícia e Mastologia, tanto em Clínica Médica como em Cirurgia Oncoplástica. Realiza cursos e workshops de Saúde da Mulher, bem como trabalhos voluntários de preparação de gestantes, orientação de adolescentes e prevenção de DST´s. Participou de inúmeros trabalhos ligados à saúde feminina nas mais variadas fases da vida e atua ativamente em programas que visam ao aprimoramento científico. Atualiza-se por meio da participação em cursos, seminários e congressos nacionais e internacionais e produz conteúdo científico para produções acadêmicas.

Dra. Mariana Rosario – Ginecologista, Obstetra e Mastologista. CRM- SP: 127087. RQE Masto: 42874. RQE GO: 71979.

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